quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Teoria do Banheiro

imagem: www.urra.com.br

Se eu colocar um foto do meu banheiro aqui seria como mostrar a vocês metade da minha personalidade. Tudo o que você tem no seu banheiro diz sobre você, seus gostos, sua cor, sua pele, seu cabelo. O tipo do xampu nos permite ter uma idéia de como são seus fios, mesmo sem o vestígio do ralo. Quando encontramos vestígios no ralo, provavelmente é porque uma mulher freqüenta aquele lugar. Eu não vou ver o comprimento do fio porque sou meio nojento em pegar aquela peruca molhada do ralo, mas não consigo imaginar um homem deixando esse tipo de vestígio. Aliás, vestígios de homem relacionados à pelo em banheiro ou são tocos de fio de barba na pia, ou uns cabelinhos no vaso. Isso mulher não faz, tenho certeza. Fato é que deixar tais vestígios é uma falta de higiene tamanha. Se o seu banheiro tem isso, você deve ser um pouco egoísta. Não está muito interessado em saber se o conforto alheio será afetado pela sua lembrança. Aliás, qualquer outro tipo de lembrança que seu próprio corpo produz é uma grande sacanagem. Só são permitidas em casos de entupimento, e olhe lá.
Eu nunca vi uma cueca lavada pendurada na torneira do chuveiro ou na saboneteira, mas calcinhas, olha, são quase acessórios permanentes, como o espelho da pia. É incrível como a gente vê de monte. Mas diz a lenda que isso é normal, e que cabeça de homem algum é capaz de compreender a poesia das calcinhas lavadas a mão no banho. Eu particularmente não condeno esse hábito, mas condeno a lembrança com todas as minhas forças.
Outro marco interessante do banheiro é o cheiro. Quando cheira gleid, deve haver uma mulher que freqüenta aquele banheiro, ou um homem muito preocupado com o que os outros vão pensar dele. Quando tem aquele perfume típico de banheiro de terminal de ônibus, pode crer que muitos homens freqüentam aquele lugar. E não homens comuns, mas homens machos, sabe? Que medem sua masculinidade pela quantidade de mulheres que ficaram na vida e só. Não têm outra linha de raciocínio. São como os garotos que a Paula Toller canta, que “fazem tudo igual e quase nunca chegam ao fim”. Esse banheiro, pode olhar ao redor, tem no máximo um sabonete com pelos dentro do Box e um xampu que não revela nada, do tipo, qualquer tipo de cabelo, e de uma marca que você provavelmente não está acostumada a ver porque o importante é limpar, então não importa qual é o produto. Nessa hora eu agradeço por morar com mulheres. Se o banheiro de uma mulher, ou grupo de mulheres for assim, com certeza não servem pra esposas. Não se trata de machismo. Trata-se de precaução. Já imaginou a casa de duas pessoas que não se importam com o cheiro do lugar onde lêem, pensam, cantam enquanto se banham? Nos banheiros da vida, todos seriam iguais, não fosse o fato de se comportarem de diferentes maneiras, afinal, é o que fazemos quando ninguém nos vê fazendo. Inclusive tirar um verdinho do nariz com o dedo sem se sentir culpado.
Eu imagino o banheiro ideal um cômodo bem grande iluminado por luz natural durante do dia, com armários, vaso e pia distantes, e um Box amplo, pra dar aquela dançadinha de chinelos de borracha que você só tem coragem de mostrar pra você mesmo, enquanto pensa que é o cara mais bonito da terra. Ao menos você é feliz. Porque esse negócio de sonhar com banheiro pequeno, é coisa de gente que quer fugir dele, e assim, dos melhores momentos de prazer solitário que se pode ter, como um bom banho morno, ou um momento pra admirar seus traços após se barbear. Se ele fosse só um lugar de fazer as necessidades, não teria porque a gente querer enfeitar. Muito menos se sentir bem lá dentro. A forma como você trata o seu banheiro e o que você coloca e usa dentro dele é uma arte. Assim como admirar um quadro e captar sua essência. A arte que você produz é uma forma de manifestação sentimental. E banheiros são grandes telas em branco. O que você manifesta?

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