quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Caderno

Ontem à noite eu estava olhando algumas coisas antigas, guardadas naqueles lugares que a gente só mexe uma vez por ano pra tirar o pó e me dei conta de um caderno que fazia algum tempo eu nem o abria. Na realidade, ele de fato não tem grandes anotações, mas por um momento, fiquei olhando aquelas páginas em branco pensando como poderia preenchê-las. Há uns dois anos atrás eu tinha um diário, tipo o diário de Doug Funnie, sabe?

Eu não era assim, tão constante em escrever nele. Era quase um semanário. Mas quando escrevia, ficava inspirado (uia!). Sei que, dois anos depois, consegui preencher dois cadernos. Tem gente que diz que essas coisas servem pra ficar remoendo o passado, e quem vive de passado é museu. Prefiro recorrer ao Godofredo Guedes e pensar que estou relembrando aventuras passadas. Ou um passado feliz com alguém (Pra conhecer o que estou falando tem o vídeo da canção no fim dessa postagem). Quando não se tem grandes e constantes companhias, recorrer aos prazeres da vida as vezes resolvem. Gosto de escrever, de cantar, de falar, de tocar piano. Não se trata de uma forma de fugir do mundo, mas caso seja e eu esteja de fato mentindo pra mim mesmo, é melhor do que manter a mente vazia. São lembranças de um mundo antigo. Lembranças pra posteridade.

Carlos Drummond quem disse, certa vez, sobre uma “Clara [, que] passeava no jardim com as crianças. O céu era verde sobre o gramado, a água era dourada sobre as pontes, outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados, o guarda civil sorria, passavam bicicletas, a menina pisou a relva para pegar um pássaro, o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranqüilo em redor de Clara”

“(...)
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das onze horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!”

E vendo meu caderno, me surpreendi com a primeira coisa que escrevi, logo na primeira página. Uma frase de Paulo Leminski, que devo ter achado na época em que trabalhei numa biblioteca:

“Abrindo um antigo caderno foi que descobri: Antigamente eu era eterno”.


Clara, Drummond, Leminski, Godofredo, Toquinho (que fez uma homenagem ao nosso amigo caderno, que você confere logo abaixo), eu, você. Certamente também éramos.


O CADERNO -TOQUINHO


TRIBUTO À GODOFREDO GUEDES - CASINHA DE PALHA - CANTAR

Nenhum comentário:

Postar um comentário