sábado, 8 de janeiro de 2011

Olho contra olho

Tanto se diz sobre os olhos, e as coisas que eles dizem e tal, que às vezes a gente jura que sabe alguma coisa por causa da maneira como determinada coisa "olha" pra gente, como uma pessoa olha e tudo mais. Tem aquela química do olhar, que é aquela que a gente fica certo que a paquera é perfeitamente possível, afinal de contas ela já começou ali, nos olhos; tem o ódio certo e explícito que aquele olharzinho lateral faz questão de deixar claro, e tem também o olhar da esperança de algo que tem de acontecer quase que instantaneamente, que é aquele bem aberto, levemente lacrimejado, brilhante, que geralmente vem acompanhado com o movimento das mãos rumo ao rosto, mas que acaba parando na região do peito. Tem também o olhar 43, que não compreendo até hoje, mas suspeito que tenha algo relacionado com aqueles olhares do tipo “sou sexy” que as menininhas gostam de por no Orkut (até porque, hoje não se bate foto pra se ter lembranças, se bate pra por no Orkut); tem o olhinho do big brother, que infelizmenteestá voltando pra gente jurar que não gosta de ver e que não faz a menor diferença na nossa vida, mas a gente volta correndo pra casa pra saber quem vai pro paredão; tem os olhos do cats, que é fantástico; e o olho que por si só é absoluto e não adianta nenhum olhar que possamos fazer ainda que treinado, ele sempre será o preferido, que é o olho azul.

O indivíduo pode ser o cara mais feio do mundo, mas se o olho for azul, já era. Você está em segundo plano. É que nem Coca Cola. Ela pode ser a única na gôndola, das no meio de tantas outras garrafas, ela sempre será nossa preferida. Trocaríamos um fardo com seis Pepsi por uma Coca, uma única Coca Cola.
Enfim... Eu tava lendo uns negócios e achei num Xerox dobrado no meio de um outro livro uma poesia chamada OLHO CONTRA OLHO. Se alguém souber o nome do autor, por favor, contem pra gente! Aqui, os olhos tem personalidade, e creio que todo mundo, sem exceção (até os olhos azuis estão inclusos) tem os olhos assim.

Meu olho cotidiano
é o meu olho direito.
Com ele é que espreito
o largo panorama
que o dia me desdobra,
as crianças na praça,
e o jornaleiro na esquina,
as obras na Prefeitura
e os cachos das acácias

É um olho certo, correto,
que não vê de través
e vai direto às pessoas
com um jeito cordato
da cabeça aos sapatos,
e lhes dá boa tarde
com humildade e respeito.

Um olho geral, cabal,
risonho e bisonho,
que se admira e louva,
vê as andorinhas no vôo
e as galinhas ciscando
no espaço do quintal.
Um olho sóbrio, abstêmio,
com seu regime frugal.

Meu olho esquerdo, esse,
que olho mais safado!
que espia pelos cantos,
pelos vãos, os interstícios,
onde não é chamado.

Enquanto o outro se desvia
ele vai na contramão,
e olha os seios, as ancas,
acaricia as coxas
da mulher do vizinho.
Se o direito vê exato
o esquerdo lhe disputa
a ciência e o recato
e ri nas entrelinhas.

Esquerdo, olho do Demo,
que no defunto composto
não vê o rosto beato,
vê a mosca em seu nariz,
e os pecados enroscados
no pescoço da viúva,
a quem dá os pêsames
mas belisca no braço.

Fechado o olho direito
dorme nos lençóis do leito.
Mas o esquerdo passeia
no quarto, e contempla
a mulher que se despe.
Vê onde o outro não vê,
descrê do que ele crê,
esse olho atrevido
que pisca nas esquinas
e percorre as madrugadas,
quando o outro, tranqüilo,
dorme e sonha com os anjos.

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